Os textos desta página são cartas que M. escreve para um amigo que (acho) mora na Europa. Todos os dia de manhã, ela deposita um envelope embaixo da minha porta. Depois de encher as latas do condomínio de bolos de papel, desisti, e resolvi publicar algumas por aqui. Assim, quem sabe, podem algum dia atingir o seu destinatário... Renata Magdaleno

segunda-feira, abril 26, 2004

Galeão (para mim, ainda não é Rio. Um lugar perdido entre um destino e outro), 26 de abril de 2004

Querido, F.


Não aguento mais procurar a minha mala na esteira de bagagens. Na última viagem que fiz, logo entre as primeiras malas que passavam, estava uma com estampa de safari, zebras e girafas passeando num fundo bege. Vi várias pessoas apontando para ela, comentando, rindo. Tenho que admitir: era cafona mesmo. Mas senti inveja mesmo assim. Tenho certeza de que a dona reconheceu sua mala de longe e puxou sem sobressaltos, quando esta passou na sua frente. Não vi a cena. Estava ocupada lendo discretamente a etiqueta com o nome de todas as malas pretas que desfilavam por ali.
Já tentei decorar as listrinhas cinzas da minha, dispostas pela lateral. Não adianta. Jogada numa esteira, junto com dezenas de malas pretas, ela fica igual a todas as outras.
Numa outra ocasião, voltando de Salvador, amarrei uma fitinha do Senhor do Bonfim na alça. Acho que ninguém sabia o que fazer com aqueles bolos de fitinhas que você recebe numa única semana por lá. Foram todas parar em alças de malas de viagem. Quando cheguei à esteira, feliz da vida e despreocupada, vi fitinhas do Senhor do Bonfim decorando a maioria delas.
Depois de nove, dez horas dentro de um avião, tudo o que uma pessoa pode desejar é uma mala com estampa de safari.

Até...