Os textos desta página são cartas que M. escreve para um amigo que (acho) mora na Europa. Todos os dia de manhã, ela deposita um envelope embaixo da minha porta. Depois de encher as latas do condomínio de bolos de papel, desisti, e resolvi publicar algumas por aqui. Assim, quem sabe, podem algum dia atingir o seu destinatário... Renata Magdaleno

sexta-feira, setembro 08, 2006

entre quatro paredes

Querido F.,

Há cerca de um mês, Marisa Monte solta a voz na minha vitrola (sim, sou antiga e, mesmo com estas bolachas prateadas, na minha casa o aparelho de som vai sempre se chamar vitrola). Abro a porta do quarto de manhã e uma voz afinada começa a cantar:

Eu só não te convido pra dançar
Porque eu quero encontrar com você em particular
Há tempos tento encontrar um bom momento
Alguma ocasião propícia
Pra que eu possa pegar sua mão, olhar nos olhos teus
Seria bom, quatro paredes, eu, você e Deus


Procuro explicar o meu sentimento
E só consigo encontrar
Palavras que não existem no dicionário
Você podia entender meu vocabulário
Decifrar meus sinais, seria bom


Eu só não te convido pra dançar
Porque o assunto que eu quero contigo é em particular
Há tempos tento encontrar um bom momento
Alguma ocasião propícia
Pra que eu possa pegar sua mão, olhar nos olhos teus
Seria bom, quatro paredes, eu, você e Deus


Cantarolo outro som, finjo que não escuto, mas Marisa não desiste. Some por uns dias e, numa manhã inesperada, lá está ela de novo, martelando com voz potente minha cabeça. Hoje acordei e botei o disco bem alto. Estou dançando pela sala, Juma me acompanha aos saltos. Não me interrompa, por favor. É, por enquanto... só por enquanto... amanhã, quem sabe, consigo encher os ouvidos de algodão novamente.
Até,
M.