Os textos desta página são cartas que M. escreve para um amigo que (acho) mora na Europa. Todos os dia de manhã, ela deposita um envelope embaixo da minha porta. Depois de encher as latas do condomínio de bolos de papel, desisti, e resolvi publicar algumas por aqui. Assim, quem sabe, podem algum dia atingir o seu destinatário... Renata Magdaleno

quarta-feira, janeiro 17, 2007

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Acho que eu devia chegar no teatro logo com uma confissão escrita. Algo como:

... é com vergonha que confesso que... tantas e tantas vezes, em vez de olhar entre os meus, roubei um verso teu e dei de presente. E não foi uma, nem duas ou três. Tantas que perdi a conta. E me perdoe, pois não resisto, e sei que vou fazer outra vez....

Mas depois fico pensando que deve haver um quarto cheio delas. Apartamentos inteiros cheios de cartas, caixas de e-mail explodindo de mensagens. Confissões iguais às minhas. Talvez piores. E ninguém ficaria espantado com o volume. Já deve existir um funcionário esperando a remessa antes de cada apresentação.

Ainda me lembro da última vez que assisti a um show dele. Faz tempo. Fui com a Judith e sentamos numa mesa central. Lá pelas tantas ela olhou na minha direção:
- São os olhos. O que me mata neste homem são os olhos. Um azul tão limpo.
- Então são azuis?
E ela ficou rindo, achando que eu brincava. Mas juro que nunca tinha notado. E com aqueles versos que prendem a gente por dentro lá dá pra notar alguma coisa?

Sei que em março vou voltar a contar os tostões. Já tenho pesadelos com notas voando, micro saquinhos de dinheiro com asas, como nos desenhos animados. Mas este é um dos meus momentos Scarlett O’Hara. Amanhã eu penso. Só sei que... Mês que vem vou ver o Chico no Canecão.