Os textos desta página são cartas que M. escreve para um amigo que (acho) mora na Europa. Todos os dia de manhã, ela deposita um envelope embaixo da minha porta. Depois de encher as latas do condomínio de bolos de papel, desisti, e resolvi publicar algumas por aqui. Assim, quem sabe, podem algum dia atingir o seu destinatário... Renata Magdaleno

segunda-feira, maio 01, 2006

o ataque das formigas gigantes...

Acho que fui envenenada... O caso é que minha casa foi invadida por formigas gigantes. Enormes. Inacreditavelmente grandes. Nunca imaginei que pudessem existir formigas assim. Elas vêm atrás da ração da Juma e saem, uma a uma, carregando os grãos pela cozinha. Juro! Sem exageros. Passam por embaixo da porta e se metem sei lá onde, engordando a pança com a ração da minha cachorrinha. Estão, a cada dia, em maior número. No começo eram só umas poucas, grandes, sempre enormes. E eu achava até bonitinho. Ficava com pena de matar. Devia ser grande o esforço pra carregar a ração pela cabeça.
Mas agora elas vêm aos montes. E já vejo pequenininhas no meio. Acho que procriaram. Eu e a Pedigree estamos ajudando a alimentar uma família inteira de insetos. Por mais que eu saia como uma louca, pisando com meu chinelo pelos cantos, gritando: Morram! Morram! Sem piedade por carregarem migalhas ou grãos inteiros de ração. Não adianta. Elas resistem! Não devem ser daqui.
Fui reclamar com o porteiro. Não era possível. Em algum lugar do prédio elas deviam morar. Qualquer dia desses, acordava e encontrava umas quatro na minha cama, dividindo o travesseiro comigo. E lá veio ele com um saquinho lacrado, cheio de grãos verdes no interior. E explicou direitinho: era pra eu isolar a área, prender a Juma e espalhar o granulado pelo chão da cozinha. As dita-cujas iam levando as pedrinhas, como faziam com a ração, e morreriam todas dentro da própria casa. Cruel. Mas, lembrando da cozinha ocupada por elas, resolvi levar o remédio.
Deixei o saquinho no tanque para ler melhor depois. Lavei a mão de leve, repito, de levinho, sem muitas esfregações e comecei a escovar os dentes para dormir. Fio dental, dedos passeando pela boca, escova, pasta, líquido verdinho para, segundo o comercial, exterminar as placas e sei lá mais o quê. E, quando terminei a operação, me toquei: peguei o saquinho com as tais pedras verdes!!!!!! Tomei um copo de leite (dizem que é bom! Corta o efeito!), peguei uma revista pra distrair a cabeça e comecei a ler: Angélica clicando o Luciano Huck numa cachoeira. Ele só de sunga (até que é bonitinho). Meninas com vestidos esquisitos tentando convencer as leitoras de que dá pra sair na rua daquele jeito. Uma receita pra deixar o cabelo bonito e brilhoso.... e, de repente, nem conseguia mais engolir direito. A boca seca, incrivelmente seca! Fui até a cozinha, despejei um copo inteiro de água. Nada. E, daqui a pouco, não era mais só a boca, mais a garganta inteira. Seca, seca, seca! Entrei na cozinha e fiquei olhando atenta para elas. Pareciam alegres, como nunca, passeando pelos cantos. Tomando conta da casa. Acho que me envenenaram. Vou tentar dormir. Talvez seja impressão. Se não escrever amanhã, telefone pra minha casa.
Até,
M.