Os textos desta página são cartas que M. escreve para um amigo que (acho) mora na Europa. Todos os dia de manhã, ela deposita um envelope embaixo da minha porta. Depois de encher as latas do condomínio de bolos de papel, desisti, e resolvi publicar algumas por aqui. Assim, quem sabe, podem algum dia atingir o seu destinatário... Renata Magdaleno

terça-feira, setembro 20, 2005

Querido F.,

Fui surpreendida com um livro na manhã de hoje. Chegou para mim de presente, inesperado, delicioso. E foi a Juma quem encontrou. Fui botar o lixo na lixeira do corredor e lá ficou ela fuçando num monte de jornais jogados no chão. E, de repente, me sai com uma capa durinha, quadradinha de lá de dentro. O rabo abanando, olhando pra mim com cara de sorriso.
Sorri também. Balzac e a costureirinha chinesa. Se passa no fim da década de 60, quando o líder Mao Tse-Tung resolve decretar que tudo quanto é livro escrito no ocidente é proibido e os jovens das cidades grandes precisam passar por um período de reeducação. Eles vão para aldeias isoladas trabalhar e aprender que tudo o que vem da cultura ocidental é coisa de burguês. Inútil para a vida. Capaz de encher a cabeça de caraminholas sem razão de ser.
E lá se vão dois jovens para a reeducação. Eles conhecem uma costureirinha de uma aldeia vizinha, roubam uma mala com livros proibidos e passam a encher as noites da moça com as tramas de Balzac. É uma história sobre amor e literatura também. E sobre livros que mudam as nossas vidas e fazem com que tomemos atitudes inesperadas.
Fiquei a tarde inteira com ele entre os braços. Não saí de casa, mas viajei por terras distantes.
Quanto aos rumos da minha vida, nada posso dizer. Mas Balzac e a costureirinha chinesa mudaram o meu dia.
Saudades...
Até,
M.