Os textos desta página são cartas que M. escreve para um amigo que (acho) mora na Europa. Todos os dia de manhã, ela deposita um envelope embaixo da minha porta. Depois de encher as latas do condomínio de bolos de papel, desisti, e resolvi publicar algumas por aqui. Assim, quem sabe, podem algum dia atingir o seu destinatário... Renata Magdaleno

domingo, junho 18, 2006

verde-amarelo-azul-e-branco

Querido F.,


Não sei como andam os franceses quando a bola começa a rolar nos campos da Alemanha, mas, por aqui, em dia de jogo do Brasil na Copa do Mundo, ninguém faz nada. Os estabelecimentos costumam fechar duas horas antes da partida, mas isso não quer dizer que os funcionários tenham ido trabalhar de manhã. Experimente comprar uma caixinha de fósforos num dia de jogo pra ver.
No supermercado, estão todos uniformizados. Não com a roupa da empresa, mas com a blusa da seleção. E é bem capaz de você pagar três vezes o preço, porque a atendente registrou o número errado. Ou sair com três sacolas de compras que nem eram suas. Os corpos estão lá, é verdade, exercendo as tarefas do dia. Mas a cabeça, a alma e sei lá mais o que já estão longe, comendo pipoca na frente de alguma TV, esperando o Ronaldinho cantar o hino nacional num gramado alemão.
Fiz o mesmo. Sem me dar conta estava com a Juma fazendo uma tigela de pipoca ligth, me vestindo de verde e amarelo dos pés a cabeça e gritando BRASIL, empolgada, toda vez que um vizinho assoprava numa corneta de plástico e um som grave, irritante, invadia todo o prédio. TOOOOOOOOOOOOMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM
Pendurei uma bandeira enorme na janela e acompanhei atenta cada passe. Gol! Tooommm! Pulinhos de alegria. Grande Adriano!!! Fred entrou em campo e fez o segundo do Brasil!!!! Fred? Quem era esse mesmo? Não importa. Mais Toooommmm. Mais festa!!! Sorrisos e fogos de artifício espocando no céu, para desespero da Juma.
O jogo acabou. Satisfeita com a vitória tirei minha blusa da seleção e botei um vestido marrom para caminhar na praia. Enrolei a bandeira e arrumei os móveis novamente. Acabou o meu espetáculo de patriotismo. Quinta-feira tem mais.

Lamentei a morte do Bussunda. Disseram que ele era a cara do Brasil. O que será isso?

Até,
M.