Os textos desta página são cartas que M. escreve para um amigo que (acho) mora na Europa. Todos os dia de manhã, ela deposita um envelope embaixo da minha porta. Depois de encher as latas do condomínio de bolos de papel, desisti, e resolvi publicar algumas por aqui. Assim, quem sabe, podem algum dia atingir o seu destinatário... Renata Magdaleno

sexta-feira, setembro 05, 2008

Uma manhã de exercícios na piscina

Era um exercício de respiração. Ele subia e descia, fazendo um bico engraçado com a boca toda vez que levantava da água. O sol estava fraco e talvez sentisse frio. Se a friagem incomodasse, teria levantado e corrido para a toalha aos saltinhos. Mas continuava lá. Trinta e um, trinta e dois...
_ Chega perto da borda?
Fui andando calmamente, mas ele tinha pressa. Alguma coisa tinha urgência de ser feita. Quando cheguei, passou as instruções.
_ Vou ficar embaixo d’água e você liga o cronometro logo que eu descer.
_ Sei. É para medir o tempo que consegue ficar sem respirar?
_ Isso.
Abriu a boca o mais que pôde e puxou o ar para dentro com força. Um, dois, três.... Foi. A cabeça embaixo d’água, o corpo boiando e eu lá, olhando os números no cronometro. Um minuto, dois... Fiquei preocupada e toquei numa parte do seu corpo. Recebi um safanão de volta. Estava vivo. Dois e meio, três... Repeti o gesto sem me preocupar com humores. Novo soquinho. Vivo. Quatro, quatro e meio...
Ele subiu abrindo a boca ao máximo.
_ Quanto foi?
_ Quatro e meio.
Não falou nada. Mas apareceu um meio sorriso no rosto e senti que o peito estufava de orgulho.
_ Tenho que chegar até cinco.
E lá ficou. Levantando e subindo. Minha função tinha acabado e voltei para a cadeira. Mas e se ele se machucar na piscina? E se o frio deixá-lo resfriado? E achava que estava lindo lá dentro. O cabelo grudado na testa e o biquinho engraçado aprisionando o ar dentro do peito.
_ Já está na hora do almoço.

Ele levantou e foi aos saltinhos buscar a toalha. Se aninhou nos meus braços e cobri sua testa de beijos. Me beijou de volta, na boca. Meu marido.