Era um exercício de respiração. Ele subia e descia, fazendo um bico engraçado com a boca toda vez que levantava da água. O sol estava fraco e talvez sentisse frio. Se a friagem incomodasse, teria levantado e corrido para a toalha aos saltinhos. Mas continuava lá. Trinta e um, trinta e dois...
_ Chega perto da borda?
Fui andando calmamente, mas ele tinha pressa. Alguma coisa tinha urgência de ser feita. Quando cheguei, passou as instruções.
_ Vou ficar embaixo d’água e você liga o cronometro logo que eu descer.
_ Sei. É para medir o tempo que consegue ficar sem respirar?
_ Isso.
Abriu a boca o mais que pôde e puxou o ar para dentro com força. Um, dois, três.... Foi. A cabeça embaixo d’água, o corpo boiando e eu lá, olhando os números no cronometro. Um minuto, dois... Fiquei preocupada e toquei numa parte do seu corpo. Recebi um safanão de volta. Estava vivo. Dois e meio, três... Repeti o gesto sem me preocupar com humores. Novo soquinho. Vivo. Quatro, quatro e meio...
Ele subiu abrindo a boca ao máximo.
_ Quanto foi?
_ Quatro e meio.
Não falou nada. Mas apareceu um meio sorriso no rosto e senti que o peito estufava de orgulho.
_ Tenho que chegar até cinco.
E lá ficou. Levantando e subindo. Minha função tinha acabado e voltei para a cadeira. Mas e se ele se machucar na piscina? E se o frio deixá-lo resfriado? E achava que estava lindo lá dentro. O cabelo grudado na testa e o biquinho engraçado aprisionando o ar dentro do peito.
_ Já está na hora do almoço.
Ele levantou e foi aos saltinhos buscar a toalha. Se aninhou nos meus braços e cobri sua testa de beijos. Me beijou de volta, na boca. Meu marido.