
Não fui eu quem inventou esta história. Li numa crítica de jornal. Destas de cinema. Logo na primeira frase o autor repetia o verso de Vinícius de Moraes: Todo grande amor só é bem grande se for triste. E eu ri da cabeça virar até atrás e parei para me ver assim no espelho, cheia de certezas, olhos cansados de quem já passou da metade da vida. Tirei o telefone do gancho e liguei pra Olga de troça.
- Tá no jornal de hoje. Olha lá.
- Quem assina? O Romeu?
- É! Deve ser ele! Acabou de conhecer a Julieta no baile e se deu conta de que ela é da família inimiga.
- Quem assina? O Romeu?
- É! Deve ser ele! Acabou de conhecer a Julieta no baile e se deu conta de que ela é da família inimiga.
E um monte de hahahahahas preenchendo o tempo entre as frases.
- Mas Romeu é um adolescente!!!!
E a gente ria, ria, como quem sabe de tudo. E da crítica do jornal, passamos pro poema do Vinícius.
- Mas ele tava falando que quem se protege da vida perde a melhor parte dela – arrisco a Olga.
- Acho que não. Acho que é coisa de gente apaixonada. Ele sabe que ficar junto vai ser difícil, mas que chegou a um ponto que não tem como ir embora mesmo. O famoso se ficar o bicho pega, se correr o bicho come.
- Acho que não. Acho que é coisa de gente apaixonada. Ele sabe que ficar junto vai ser difícil, mas que chegou a um ponto que não tem como ir embora mesmo. O famoso se ficar o bicho pega, se correr o bicho come.
E as duas ficaram em silêncio. Fazendo na cabeça uma retrospectiva dos amores do passado. E desatamos a soltar um bando de nomes: João, Felipe, Tobias, Delfim, Juca, Célio, Anderson, Francisco...
E a Olga empacou no Felipe.
- Verão de 64. Nunca esqueci. Aquele sim. Grande amor... – e um suspiro subiu pelo telefone.
E não me arrisquei a falar, mas me lembrei do Alberto de pronto. Namoro cheio de brigas, que terminava e voltava, terminava e voltava, terminava e voltava. Até que um dia eu arrumei uma mochila enorme e falei pra minha mãe que ia viajar nas férias pro Nordeste. Fiquei três meses pulando de cidade em cidade. Demorei umas semanas na Bahia. Fiz amigos em Fortaleza e voltei no inicinho das aulas. Ele já estava com outra, se casou com ela. Teve três filhos e hoje deve ter uma penca de netinhos. Amorzão. Não esqueço.
Falei pra Olga que a máquina de lavar tinha parado. Tava na hora de estender as roupas. E desliguei o telefone pensando porque afinal de contas a gente só se lembra dos que não deram certo, das histórias cheias de sofrimento. É por que ficamos pensando no que poderia ter sido? Se Romeu tivesse se casado com a Julieta a gente não lembrar mais dele? Vou guardar esta crítica pra ler de novo mais tarde...