Os textos desta página são cartas que M. escreve para um amigo que (acho) mora na Europa. Todos os dia de manhã, ela deposita um envelope embaixo da minha porta. Depois de encher as latas do condomínio de bolos de papel, desisti, e resolvi publicar algumas por aqui. Assim, quem sabe, podem algum dia atingir o seu destinatário... Renata Magdaleno

domingo, setembro 19, 2004

Querido F.,


Nao sei se te contei, mas agora ando fazendo analise. E. De tanto insistirem comigo, resolvi ceder. Ficavam dizendo que esta minha mania de viver viajando e simplesmente uma forma de escapar da vida. Eu sei, eu sei, que toda vez que me sinto um pouquinho deprimida, um ventinho monotono que seja batendo na minha janela, corro e arrumo as malas. As pessoas ate podem ter razao. Viajar tambem nao e vida? Pois, entao. Como posso estar correndo dela? MInha analista, como todo analista, acha que ha um fundinho de verdade nisso tudo e que meus mais fundo desejos pedem que eu me aquiete em casa. Caso contrario, o que afinal de contas estaria eu fazendo la. Afinal, nao fui obrigada. Eu mesma marquei minha primeira hora. Ela provavelmente tem um pouco de razao. Agora, minhas escapolidas tem tempo determinado. Nao podem durar mais do que uma semana. Toda sexta, Amelia esta la esperando por mim. E sabe que tenho gostado? Nasci para fazer analise. Para pensar na vida, nos propositos escondidos atras de nossos atos.
E voce? Como anda?

Ate mais,
M.

segunda-feira, setembro 13, 2004

Querido F.,

Desculpe a demora em responder. Passei a semana botando as coisas em ordem aqui em casa. Estou fazendo desenhos dos lugares onde vou e esta semana inaugurei uma parede na minha sala com as pinturas.
É impressionante como realmente nunca, nunca estamos satisfeitos com o que temos. Tanta era a minha vontade de voltar e, agora que enfim estou instaladinha nos meus cobertores, com meus queridos livros na estante e a caótica e acolhedora imagem da Avenida Nossa Senhora de Copacabana da janela, não penso em outra coisa a não ser no meu próximo destino. Já começo a planejar outra viagem. O que posso fazer? Já nasci com este espírito inquieto.
E tem mais... Estou feliz, feliz com minha cachorrinha de volta, mas, ontem, fiquei com vontade, juro, de devolvê-la para o filho do Seu Zé e ir só visitar no fim de semana. A danada comeu meu chinelo preferido, um com uma carinha de dálmata que você tinha me dado de presente, lembra? E resolveu fazer do meu tapete da sala seu banheiro. Desde então, não falo com ela, passo olhando para outro lado. Amanhã o gelo acaba. Ai, ai, ainda bem que ela não sabe ler...

Até,
M.
Querido F.,

Desculpe a demora em responder. Passei a semana botando as coisas em ordem aqui em casa. Estou fazendo desenhos dos lugares onde vou e esta semana inaugurei uma parede na minha sala com as pinturas.
É impressionante como realmente nunca, nunca estamos satisfeitos com o que temos. Tanta era a minha vontade de voltar e, agora que enfim estou instaladinha nos meus cobertores, com meus queridos livros na estante e a caótica e acolhedora imagem da Avenida Nossa Senhora de Copacabana da janela, não penso em outra coisa a não ser no meu próximo destino. Já começo a planejar outra viagem. O que posso fazer? Já nasci com este espírito inquieto.
E tem mais... Estou feliz, feliz com minha cachorrinha de volta, mas, ontem, fiquei com vontade, juro, de devolvê-la para o filho do Seu Zé e ir só visitar no fim de semana. A danada comeu meu chinelo preferido, um com uma carinha de dálmata que você tinha me dado de presente, lembra? E resolveu fazer do meu tapete da sala seu banheiro. Desde então, não falo com ela, passo olhando para outro lado. Amanhã o gelo acaba. Ai, ai, ainda bem que ela não sabe ler...

Até,
M.

sábado, setembro 04, 2004

Querido F.

Cheguei no Rio num dia de chuva. Chuvisco seria mais preciso dizer. Mas vi aquilo com os olhos de um otimista: a cidade está me recepcionando! Vou lavar a alma!
Acho que esta vontade louca de voltar para casa tinha uma intuição forte por trás. Isso porque tive uma surpresa maravilhosa assim que cheguei na portaria do meu prédio. Nem precisei subir as escadas. Seu Zé, o porteiro, me recebeu com um sorriso e deu logo a notícia: acharam a sua cachorrinha. Eu não falei para a senhora? Quando a gente bota o endereço e o telefone na coleira, pode dar sorte de encontrar a bichinha de novo!
Nem consegui responder. Fiquei completamnte sem palavras. Saí correndo para a casa do Seu Zé e vi a bichinha sentada numa almofada no chão, como se visse televisão do lado da filha dele. Era a mesma e estava linda. Fiquei com os olhos cheios d'água e ela comemorou abanando seu rabo compriiiido. Levei a minha cachorrinha pra casa feliz da vida, mas fiquei com a imagem dela vendo TV na cabeça: será que queria voltar?

Até.
M.
Querido F.,

Só tenho uma coisa a dizer: e o Rio de Janeiro continua lindo...

Até,
M.