Os textos desta página são cartas que M. escreve para um amigo que (acho) mora na Europa. Todos os dia de manhã, ela deposita um envelope embaixo da minha porta. Depois de encher as latas do condomínio de bolos de papel, desisti, e resolvi publicar algumas por aqui. Assim, quem sabe, podem algum dia atingir o seu destinatário... Renata Magdaleno

sábado, agosto 04, 2007

Sinopse

Medos privados em lugares públicos
“Coeurs” (França/Itália/..., 2006)

Drama (talvez nem seja tanto). E o filme começa com uma das personagens visitando um apartamento para alugar. Um dois quartos apertado em Paris, como a maioria dos apartamentos por lá (Não que eu saiba. Nunca fui. Os amigos é que contam nas cartas). E, justificando sua insatisfação com o tamanho dos cômodos, ela prova ao corretor que o proprietário na verdade dividiu o único quarto em dois. E vemos o seu braço entrar no vão entre a janela e a parede e sair do outro lado.

- Vê? Uma única janela. A parede divide a janela em dois. Originalmente, havia apenas um quarto amplo.

E ela continua (não me cobrem fidelidade nos diálogos. Não tenho a memória tão boa assim):

- O que acontece quando o dono de um dos quartos abre a janela e o outro fecha? Nada. Não tem jeito. Ou os dois morrem congelados ou os dois ficam abafados aqui dentro.

E o longa continua mostrando sua seleção de personagens. Isolados em salas, bares, apartamentos. Todos solitários. Mas, vez ou outra, para surpreender, a câmera sobe e, então, nós, espectadores, podemos ver. As paredes que separam os ambientes não vão até em cima, não encostam no teto. Os personagens estão ligados pelo mesmo espaço, separados por divisórias ilusórias. É possível transpor cada uma delas, mas eles acreditam que, por algum motivo, precisam continuar onde estão e ficam.

O cenário é como a solidão que o filme estuda. Há algo que liga a todos. Os mesmos medos, anseios, esperanças, alegrias, sofrimentos. Como a janela do início: não há como fugir, o frio ou o abafamento é o mesmo. Apesar disso, os personagens terminam como começaram. Sim, acaba assim mesmo. É... contei o final.120 minutos. Livre.