Os textos desta página são cartas que M. escreve para um amigo que (acho) mora na Europa. Todos os dia de manhã, ela deposita um envelope embaixo da minha porta. Depois de encher as latas do condomínio de bolos de papel, desisti, e resolvi publicar algumas por aqui. Assim, quem sabe, podem algum dia atingir o seu destinatário... Renata Magdaleno

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Torta alemã

Querido F.,
Foi Felipe quem me apresentou à única torta alemã que faz parte do meu cardápio. O relacionamento acabou, anos se passaram e o hábito de ir na Tratoria, em Copacabana, só pensando nela, ficou. Hoje eu fui lá de novo. Sentei sozinha numa mesa, sem o menor pudor de estar desacompanhada num restaurante, depois de uma certa idade não ligamos mais pra estas coisas. Pedi um prato executivo sem muita importância, que depois da última garfada já tinha se apagado da minha memória, e acenei para o garçom atrás da sobremesa. Lá veio ela, com aquela fumacinha de gelo subindo. Vem quase como um sorvete, envolta em biscoito Maria. O creme branco não tem gosto nenhum de manteiga (garanto!) e o sabor é delicado, impossível de descrever. Em cima, uma calda de chocolate generosa, parecida com um brigadeiro puxa-puxa. Delícia! Fui comendo com calma, como criança, aproveitando cada pedacinho na colher com prazer. Raspei o prato. Pediria outra, se a balança não estivesse gritando que aquele pedaço já tinha sido uma extravagância. Saí feliz! E, como todas as vezes em que visito o restaurante, fiquei pensando que, se existe alguma boa razão para o Felipe ter passado pela minha vida, ela estava bem ali, naquela fatia de torta.
Até,
M.