Os textos desta página são cartas que M. escreve para um amigo que (acho) mora na Europa. Todos os dia de manhã, ela deposita um envelope embaixo da minha porta. Depois de encher as latas do condomínio de bolos de papel, desisti, e resolvi publicar algumas por aqui. Assim, quem sabe, podem algum dia atingir o seu destinatário... Renata Magdaleno

sábado, novembro 06, 2004

Querido F.,

Me senti como uma adolescente. Juarez me levou para o Bracarense e sentamos numa mesa improvisada no meio da calçada. Ficamos conversando e conversando e, lá pelo meio da noite, descobri que nem uma mesa era. Estávamos apoiando os copo num barril com um pedaço de madeira em cima. E ele me falava da sua rotina, dos passeios que costumava fazer todos os dias pela cidade. Das horas que chegava a passar dentro de um ônibus só para conhecer um boteco lá do outro lado do Rio. Eu ficava lá dizendo que ele entendia muito do negócio, que, depois de visitar a quantidade que ele tinha visitado, já devia saber muito para abrir o seu próprio bar. E o homem lá, falando dos projetos para o futuro, de como ele queria morar numa cidade na beirinha do mar e montar um negócio tranqüilo para seus últimos tantos dias. E o bar fechou e ficamos andando pelo Leblon. Paramos na livraria para folhear revistas e, quando vimos, o sol já estava em cima de nossas cabeças. E o Juarez ficava segurando a minha mão e, de quando em quando, parava um minutinho para beijá-la. Meu coração começou a bater forte e senti um calor bem no meio do peito.
Ele me deixou em casa, me deu um beijo comprido na boca antes de ir embora e... eu percebi que não tinha falado nada de mim a noite inteira. E nem ele tinha perguntado absolutamente nada. Falta de interesse total. Fiquei meio chateada com isso... Logo me deu vontade de arrumar as malas. Ando namorando uma viagem para Nova York. Acredita que depois do 11 de setembro ainda não fui lá?

Até,
M.