Os textos desta página são cartas que M. escreve para um amigo que (acho) mora na Europa. Todos os dia de manhã, ela deposita um envelope embaixo da minha porta. Depois de encher as latas do condomínio de bolos de papel, desisti, e resolvi publicar algumas por aqui. Assim, quem sabe, podem algum dia atingir o seu destinatário... Renata Magdaleno

terça-feira, julho 18, 2006

E, de repente... a luz!


Querido F.,

Lembro que, quando visitei meu apartamento pela primeira vez, o teto altíssimo me chamou atenção. Achei lindo. Arejado. Espaço sobrando de monte. Seu Zé ainda ressaltou:
_ São três metros! Apartamento antigo é assim mesmo.
E abriu um sorriso largo, como se o vão livre fosse a maior das qualidades. Não era, mas fiquei encantada com o pé-direito, as janelas de madeira, a luz que entrava de manhã pela sala... Tudo bom. Aluguei.
Até que, num dia de noite, fui acender a luz do banheiro e ela queimou. Olhei a lâmpada lá em cima, sozinha, pequenininha, grudada no teto, que, neste momento, me pareceu ainda mais alto.
Achei que o melhor era pensar no assunto no dia seguinte. E ele passou e mais outro e outro e outro. Meus olhos já estavam acostumados à penumbra, quando, numa sexta de noite, cheguei em casa, toquei o interruptor do corredor e... pif... outra luz sumindo.
Queimada. Sem luz no corredor! Sem luz no banheiro! Desci até a portaria e peguei a escada emprestada. Era hoje! Nem mais um dia. O problema seria resolvido. Subi até o último degrau, braço esticado e... Nada. A lâmpada queimada continuou lá em cima. Inatingível. Impossível de tocar!!!!!
Como viviam os vizinhos? Eram todos gigantes? Andavam com velas pelos cômodos? Já tinha notado que, de noite, a maioria das janelas ficava apagada, mas achava que os moradores tinham saído. Agora sabia da verdade. Nada. Deviam estar dormindo. Sem luz, mal o sol baixava e se enfiavam embaixo das cobertas.
Ontem, não agüentei mais. Pedi ajuda.
_ Seu Zéééééééééééééé!
Ele subiu com uma escada enorme, muito maior do que a primeira. Trocou tudo em dez minutos. É... Acho que, por enquanto, vou continuar podendo dormir tarde...
Até,
M.