
Querido F.,
Lembro que, quando visitei meu apartamento pela primeira vez, o teto altíssimo me chamou atenção. Achei lindo. Arejado. Espaço sobrando de monte. Seu Zé ainda ressaltou:
_ São três metros! Apartamento antigo é assim mesmo.
E abriu um sorriso largo, como se o vão livre fosse a maior das qualidades. Não era, mas fiquei encantada com o pé-direito, as janelas de madeira, a luz que entrava de manhã pela sala... Tudo bom. Aluguei.
Até que, num dia de noite, fui acender a luz do banheiro e ela queimou. Olhei a lâmpada lá em cima, sozinha, pequenininha, grudada no teto, que, neste momento, me pareceu ainda mais alto.
Achei que o melhor era pensar no assunto no dia seguinte. E ele passou e mais outro e outro e outro. Meus olhos já estavam acostumados à penumbra, quando, numa sexta de noite, cheguei em casa, toquei o interruptor do corredor e... pif... outra luz sumindo.
Queimada. Sem luz no corredor! Sem luz no banheiro! Desci até a portaria e peguei a escada emprestada. Era hoje! Nem mais um dia. O problema seria resolvido. Subi até o último degrau, braço esticado e... Nada. A lâmpada queimada continuou lá em cima. Inatingível. Impossível de tocar!!!!!
Como viviam os vizinhos? Eram todos gigantes? Andavam com velas pelos cômodos? Já tinha notado que, de noite, a maioria das janelas ficava apagada, mas achava que os moradores tinham saído. Agora sabia da verdade. Nada. Deviam estar dormindo. Sem luz, mal o sol baixava e se enfiavam embaixo das cobertas.
Ontem, não agüentei mais. Pedi ajuda.
_ Seu Zéééééééééééééé!
Ele subiu com uma escada enorme, muito maior do que a primeira. Trocou tudo em dez minutos. É... Acho que, por enquanto, vou continuar podendo dormir tarde...
Até,
M.