Os textos desta página são cartas que M. escreve para um amigo que (acho) mora na Europa. Todos os dia de manhã, ela deposita um envelope embaixo da minha porta. Depois de encher as latas do condomínio de bolos de papel, desisti, e resolvi publicar algumas por aqui. Assim, quem sabe, podem algum dia atingir o seu destinatário... Renata Magdaleno

quarta-feira, setembro 03, 2008

Vi na TV que hoje está fazendo sol

O céu ficou dourado, azul, cinza. Já tirei casacos do armário, arrumei os maiôs enrolados na gaveta. Tirei todos de novo, comprei novas cangas e guardei o suéter de volta na estante perto do teto. Chegaram cartas. Li algumas, outras eu joguei fora. Desinfetaram o prédio, fiz faxina no apartamento, mas hoje de manhã encontrei uma baratinha francesa subindo pela parede da cozinha. Num dia, achei que precisava sair e apanhar sol. No outro, corri para dentro de casa e me refugiei num bolo de edredon perfumado.

Na porta ao lado, a vizinha sumiu e eu cansei de colar a orelha na parede cada vez que ouvia o trinco da fechadura dando voltas. O namorado famoso não inspira mais matérias nos jornais e os repórteres que subiam as escadas do prédio parecem ter se mudado pra outra parte, pra outra vida, pra outra história. Mas o porteiro fala que os bilhetes ainda chegam. Cartas endereçadas a ela ou a ele. Envelopes vezes com a letra redonda que a moça fazia com lápis, vezes com a dura fôrma de imprensa que ele reforçava com caneta Bic preta. De alguma forma, a vida continua.

Nenhum comentário: